quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Melhor Amigo dos Personagens


Após ler em alguns jornais a "polêmica" criada pelo não convite do cachorro Uggie, do filme O Artista, para a entrega do Oscar que acontece nesse próximo domingo e que esse mesmo Uggie foi o grande ganhador do premio "Golden Collar" (Coleira de Ouro), que premia os melhores animais do cinema, além da Palma Canina em Cannes, numa brincadeira da organização do festival com seu principal prêmio, a Palma de Ouro, decidi escrever como primeiro post nesse recém-criado blog sobre cinema uma pequena recordação sobre alguns dos famosos personagens animais da história da sétima arte.
Enquanto alguns animais fazem parte do imaginário popular cinematográfico (como a collie Lassie ou o golfinho Flipper), outros são conhecidos pelos cinéfilos mais fanáticos. Um dos mais antigos astros caninos que me lembro foi Asta, o inesquecível parceiro da dupla de detetives Nick Charles (William Powell) e Nora Charles (Mirna Loy) em A Ceia dos Acusados, de 1934. Lançado em DVD no Brasil, esse clássico filme dirigido por W. S. Van Dyke e baseado em um livro do escritor Dashiell Hammett, deveria mostrar a caçada a um cientista desaparecido. Digo deveria porque a investigação é apenas uma desculpa para uma série de tiradas fantásticas ditas pelos protagonistas, em diálogos que misturam nonsense e perspicácia. Asta se destacava ao tampar os olhos com as patas em qualquer situação de perigo. O filme fez tamanho sucesso que deu origem a cinco sequências estreladas por Powell, Loy e Asta. Hoje Asta tem um Fã-Site oficial chamado I Love Asta (http://www.iloveasta.com/ThinMan.htm), que contém informações e fotos sobre o pequeno astro.


Outro cachorro a ganhar grande destaque dentro do cinema clássico foi Flicke, mascote do protagonista do clássico italiano Umberto D (1952). Um dos principais expoentes do neorrealismo, Umberto D conta a história de um aposentado funcionário público que, em meio a crise do pós-guerra na Itália, se vê despejado  e falido, apesar dos longos anos a serviço da nação. Será a luta de um velho para não decair da miséria para a total vergonha. Apesar do tema sofrido e pujante, o diretor Vittorio de Sica preferiu não enveredar pelo caminho das lágrimas fáceis e do pieguismo, tratando a difícil situação do protagonista com a dignidade que o personagem merecia. Flicke se destaca pois é, durante boa parte da narrativa, aquele que permanece fiel a Umberto. A estima do velho por ele aparece em uma notável cena na qual Umberto cogita tornar-se um pedinte: ao perceber que ele não poderia dignar-se a tal humilhação, tenta colocar Flicke para mendigar em seu lugar mas  acaba por logo desistir, afinal seu cachorro tampouco merecia esse tratamento. As cenas finais do filme, de uma tristeza singular (e que não vou entregar aqui), também ressaltam a importância de Flicke no filme.



Bem mais recentemente, em 1997, um cãozinho da raça Brussels Griffon chamado Verdell foi fundamental para ajudar o misantropo Melvin Udall (Jack Nicholson) a sair de sua rotina pré-estabelecida pelo TOC e pelo mau-humor e tentar iniciar um relacionamento com as pessoas ao seu redor, como o vizinho gay Simon (Greg Kinnear) e a garçonete Carol (Helen Hunt). Um dos grandes ganhadores do Oscar daquele ano (melhor ator para Nicholson e melhor atriz para Hunt), Melhor é Impossível destacou-se por ser uma comédia romântica pouco convencional, na qual o "mocinho" é um insuportável e maníaco escritor e a mocinha é uma mãe solteira e madura, que está cansada de relacionamentos infrutíferos. E tem Verdell, um simpático cão que gosta de ouvir Melvin tocar piano e de comer longas fatias de bacon fritas, o principio de uma vida com a qual Melvin não está acostumado. O destaque de Verdell foi tamanho que iniciou-se uma verdadeira febre por espécimes dessa raça pelo mundo, inclusive no Brasil, onde é difícil de se encontrar e tem problemas para se adaptar ao clima.


Mas um animal não precisa aparecer constantemente para destacar-se em um filme. Na verdade, a sua ausência pode tornar-se de grande importância. O filme que melhor destaca isso é o fantástico filme japonês Madadayo (1993), do mestre Akira Kurosawa. Madadayo (que significa em português "ainda não") conta a história de um  simpático professor aposentado chamado Hyakken Uchida (Tatsuo Matsumura). Seu alunos, com o passar dos anos, realizam jantares para celebrar seu antigo mestre, ondem brindam a ele aos gritos de madadayo, querendo dizer que a morte ainda não havia chegado para ele. Mostrando os anos da Segunda Guerra e o período imediatamente posterior, retrata as dificuldades pelos quais passaram os japoneses num momento de grande escassez, ao mesmo tempo em que tentam manter suas tradições num país no qual já não tem toda a autonomia. Uchida e sua esposa (Kyoko Kagawa), por exemplo, tem sua casa destruída durante um bombardeio e são obrigados a mudar algumas vezes de casa. É numa dessas casas que um gato de rua começa a ser criado pelo professor, que vive uma viva tediosa após a aposentadoria. Mas, pouco tempo depois, o gato desaparece e o velho adoece devido a saudade do gato. Buscas são realizadas e fotos do gato distribuídas pelo bairro. É importante mencionar nesse ponto que o assunto "gato desaparecido" percorre mais de meia-hora do filme, que tem pouco mais de duas horas. Somente aqueles que realmente amaram um bichinho de estimação entende os sentimentos que Kurosawa tão habilmente retrata nessas cenas, entendem o vazio que se forma no protagonista, e que algumas poucas cenas não seriam capazes de demonstrar. Um filme que merece ser visto e revisto.


Todos temos um filme, com um determinado animal, que nos marca mais profundamente. Deixe um comentário e diga qual é o seu.


4 comentários:

  1. Agora que o filme foi lançado, dá pra dizer que o cachorro Snowy (Milou, em português), companheiro do jornalista Tintin, é um grande cachorro do cinema.

    Mas o Tirolês aqui levantou a patinha primeiro.

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  2. Sou bastante crítica com a participação de animais em filmes. Eu gosto, desde que bem elaboradas e desde que os animais não falem! Ainda assim para postar meu peludo preferido, vou ter que discordar do autor desse blog, e votar no Marley (de Marley e Eu)!

    Júlio,
    Parabéns pelo Blog! Tenha certeza de que vou comentar e divulgar sempre! Está muito bom e tenho certeza de que surpreenderá cada dia! Eu não esperava menos de você!

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  3. Tinha um pouco de preconceito para assistir filmes onde protagonistas eram animais porque na maioria das vezes eram aqueles "pastelões" cômicos e forçosamente sentimentais. Mas imagino que o processo de produção de um bom filme que dependa da "participação animal" seja muito difícil, uma vez que o bicho também atua e numa linguagem que é menos transparente.
    De qualquer forma, a ilusão produzida pelo cinema é ainda mais impressionante quando esses animais conduzem o público à uma trama, proporcionando novas percepções estéticas.

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